sábado, 23 de julho de 2011

Amy Winehouse no Brasil

Relembre matéria so site Terra da passagem da recém falecida cantora Amy Winehouse no Brasil.Confira:

Carol Almeida


SÃO PAULO - Ela evita olhar no olho do público, mas quando olha, sorri e abaixa cabeça. Amy Winehouse não sabe lidar com gente desconhecida (como uma boa inglesa) e, certamente, não tem talento algum para encarar de frente a fama. Mas o fato é que as cerca de 30 mil pessoas que foram assistir ao show da cantora no Arena Anhembi, em São Paulo, queriam mais do que ouvi-la, vê-la. Não à toa, a cantora parecia ganhar mais aplausos quando segurava sua canequinha de bebida não-identificável do que quando acertava o tom da música.


O show, que certamente aqueceria corações partidos em um pequeno bar de uísques caubóis, terminou portanto amornando a euforia dos curiosos e mesmo dos fãs que se apertavam entre latinhas de cerveja em uma longínqua pista segregacionada pela já habitual área VIP.


Com pouco mais de uma hora e dez minutos, sendo boa parte desses minutos tomados por uma longa apresentação que a cantora faz da banda lá pro fim do show, Amy Winehouse se despediu de sua curiosa turnê brasileira deixando a impressão de que dificilmente vai conseguir se descolar algum dia desse pastiche da moça problemática que alimenta o lucrativo comércio do disse-me-disse.


Curiosa, a turnê, porque não havia exatamente música inédita para apresentar, sequer um esboço de single para mostrar. O Brasil parece ter sido um laboratório que testaria se, depois de mais de dois anos longe dos palcos, a cantora poderia finalmente conduzir um show sem grandes desdobramentos para além de sua música. Deu certo e não deu certo.


Funcionou para mostrar que Amy já não mais entra em cena no limite da razão. E não funcionou porque, no fim das contas, a expectativa criada para um eventual escândalo ao vivo terminou alimentando um público que esperou mais pelo erro do que pelo acerto. Amy não errou. Se acertou, bem, isso envolve outras questões como estrutura da apresentação que, sim, não combina com essa ideia de palcos gigantes para público imenso e, acima de tudo, a tão sofrida autoestima da cantora, cuja consciência da voz ainda não atingiu a maturidade que somente o tempo, e a cabeça no lugar, lhe dariam.


Ainda bastante dispersa no palco, em diversos momentos ela canta observando um horizonte distante. A toda hora segura seus braços, fixa o chão, se preocupa com as unhas. Para quem canta músicas cuja densidade das letras é emocionalmente tão leve quanto uma bigorna, não faz sentido tamanho distanciamento.


Após Outside Lovin In, quinta música do repertório em São Paulo, ela se afasta da plateia e começa a conversar com seus músicos distante do microfone. Essas conversas se repetem ao longo do show inteiro naquilo que parece ser uma sequência de piadas internas cujo objetivo é deixar a cantora mais à vontade. Com Zalon, um dos que fazem backing vocal, ela troca abraços, brincadeiras, dá saltinhos em algo que, nos termos do funk nacional, poderíamos chamar de dança do coelhinho. Tudo em movimentos bem estreitos e desajeitados, como se ela precisasse se afastar do significado daquilo que canta ou, quem sabe, como se precisasse se afastar de um repertório velho cujas lembranças não mais interessam.


E mesmo assim, diante de sua própria timidez em encarar o público e a realidade das palavras cantadas, Amy Winehouse consegue dar seu tom a cada música que decide respirar. Tem um dom para dar glamour à dor de cotovelo que ainda não sabe reconhecer.


Quando volta ao palco depois de um interlúdio de duas músicas cantadas pelo já citado Zalon, ela surge com Rehab, o sucesso, o hit FM, a música que frequentou boates e cordões de isolamento em festas de Carnaval. O público delira, é o momento da catarse no melô do alcoólatra divertido. Amy acerta no grave, mas sua cabeça não está na mensagem. Parte do público reclama, a espera de que algum copo de uísque caia em suas mãos (ou de suas mãos). Consegue, enfim, animar fãs e curiosos com Valerie, pouco antes do desfecho do show.


A pontuar que o retorno de áudio parecia não chegar à cantora em alguns momentos e ela perdia o compasso da música e deixava a voz passear para bem longe do microfone. Aconteceu logo na primeira música do repertório, com Just Friends, quando ela errou uma entrada e teve que esperar a banda retornar ao ponto onde ela seguia com a música, e em várias outras faixas, como foi o caso do cover de Boulevard of Broken Dreams, aquela em que ela diz que "caminha sozinha".


A parada em São Paulo do festival Summer Soul, que trouxe Amy Winehouse, Janelle Monae e Mayer Hawthorne ao Brasil, não soube dimensionar as demandas do evento. Resultado: faltou bebida (mesmo na área VIP), a quantidade de banheiros foi longe do suficiente e a saída do público foi tumultuada.

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